Porque sou a favor de provas mas não as aplico?
- Teacher Heitor Goncalves
- 13 de fev. de 2023
- 4 min de leitura

É importante registrar aqui que a discussão sobre aplicação ou não de provas, importância das provas, modelos de avaliação e tantas outras variáveis poderia durar para sempre. Teríamos que fazer um levantamento de dados imenso tanto das diversas teorias escritas quanto de casos empíricos a fim de avaliar os fatos. Depois disso, esses dados deveriam ser organizados e analisados qualitativa e quantitativamente antes de ensaiar qualquer tipo de conclusão. Não é essa a minha intenção aqui, a ideia é uma reflexão sobre o porquê de eu ser a favor de provas mas não aplicá-las.
Uma coisa é fato: as avaliações, provas, testes e seleções são presentes e determinantes em nossas vidas. Além das mais famosas e tradicionais provas escolares, nossa trajetória pessoal e profissional é recheada de situações avaliativas. É preciso passar por um teste - ou mais de um - para conseguir um emprego ou para estar apto a conduzir um carro. Somos avaliados até para alugar um imóvel ou para viajar para algum país diferente do nosso - quem já tirou algum visto mais burocrático sabe como é isso. Enfim, situações avaliativas estão por aí o tempo todo, e considerando o modelo competitivo em que vivemos, elas continuarão por aí por mais um bom tempo. Então talvez o desafio seja tirar o melhor deste contexto.
Deste ponto de vista, sou a favor de uma educação escolar que priorize a PREPARAÇÃO dos alunos (cidadãos) para saberem EXPERIENCIAR estas situações avaliativas.
Por experienciar entende-se:
preparação técnica para que eles dominem o conteúdo a ser avaliado
preparação pessoal para aspectos inerentes ao contexto de prova: saber lidar com tempo, saber lidar com distrações no momento da avaliação, ergonomia, etc.
preparação psicológica. Exercícios de respiração, maneiras de controlar sintomas de nervosismo, etc.
aplicação e valorização justa de avaliações com foco em diferentes habilidades e capacidades (escrita, oral, prática)
aplicação e valorização justa de diferentes formas de avaliação (diagnóstica, formativa, somativa, dialógica, processual, cumulativa, etc)
simulação de provas como exercício de treinamento na preparação de alunos para testes específicos (exames de proficiência, entrevistas de emprego, etc)
Não é fácil, mas é possível! Lembre-se que há uma diversidade enorme de contextos escolares e educacionais diferente dos tradicionais.
Dentre todos esses desafios, a aplicação das tradicionais provas escritas é apenas uma das ferramentas a serem usadas no processo avaliativo. Ela faz parte de uma estrutura muito mais completa e complexa.
Isso tudo para justificar que neste contexto de preparação (consciente e humana) dos alunos para o mundo real eu sou muito a favor da aplicação de provas.
Ok, e por que EU não aplico provas?
Eu avalio, mas não aplico provas. Para o meu contexto atual, praticamente não faz sentido a aplicação de provas tradicionais (características da função somativa da avaliação). O primeiro motivo é que o próprio perfil de aluno não “pede” a aplicação deste tipo provas. Normalmente são pessoas focadas em um sonho e que decidiram aprender inglês de verdade e de uma vez por todas. Além disso, a avaliação existe, sim, porém em um formato que não inclui provas escritas.
E como funciona a avaliação?
Opto por um modelo de avaliação processual que envolve duas funções principais: diagnósticas e formativas. Na prática, isso inclui:
exercícios de autoavaliação
diálogos com o aluno abordando feedback de alguma atividade
revisões sistematizadas a fim de comparar as performances do mesmo aluno em diferentes momentos do curso
levantamento de falhas de performance e trabalho específico para saná-las
criação de objetivos a curto, médio e longo prazo junto ao aluno
No entanto, como tudo é personalizado às necessidades do aluno, em caso de pessoas que estão se preparando para exames de proficiência, por exemplo, é necessário usar provas como ferramenta de estudo. Normalmente estas provas possuem modelos muito específicos, então muitas vezes o aluno precisa primeiramente aprender COMO fazer a prova: quais os modelos de perguntas existem, quais tipos de texto são pedidos, qual a duração de cada etapa da prova, qual habilidade é esperada em cada tipo de prova, etc.
Um exemplo de avaliação que os meus alunos online devem reconhecer:
Iniciar a aula com uma conversa espontânea em inglês e afunilar o assunto até chegar nos pontos comunicativos que o aluno está estudando. Permanecer por alguns minutos (de 5 a 15) explorando os vocabulários e funções daquele assunto enquanto anoto algumas observações (professores, não se esqueçam, anotações não precisam ser só pontos negativos a serem corrigidos. Anotem e compartilhem com os alunos aquilo que chamou a sua atenção pelo uso correto, pela precisão e pela coragem. Não basta corrigir erros, é preciso encorajar acertos). Ao final da atividade, passamos a conversar (já em português) e aos poucos criamos juntos um feedback sobre a performance. Uma boa maneira de abordar o aluno é perguntar para ele após o diálogo em inglês: “Como você se sentiu durante a nossa conversa?” ou “Em qual parte da nossa conversa você sentiu mais confortável?” A partir daí compartilho as minhas anotações e criamos o feedback. Depois deste feedback podemos construir ali mesmo juntos uma estratégia para melhorar aquilo que ainda está falho ou no caso de satisfação total com a performance na atividade podemos usá-la como exemplo de sucesso na aquisição de auto estima pelo aluno e na projeção e coragem diante de novos objetivos.
E você, o que pensa sobre a aplicação de provas? Quais modelos prefere?
Quer evoluir um pouco mais neste assunto? Aqui listo e explico um pouco sobre alguns modelos de avaliação que mencionei no texto acima.
Comentários